Desastre ocorre em local e em momento simbólico para o país
A cerimônia da última quinta-feira (8) marcou uma histórica mudança no tratamento que a Rússia dava ao fato histórico, mas o presidente polonês, Lech Kazcynski, decidiu não comparecer ao evento conjunto e fazer outro, com oficiais do país, neste sábado (10).
Quando ia para Katyn, o avião em que embarcou o presidente polonês caiu na cidade de Smolensk, perto dali. O local voltou às manchetes dos jornais como símbolo de uma tragédia, na qual, ironicamente, a Polônia perdeu mais uma vez sua elite.
Dessa vez, não foi fruto de um massacre, mas de um acidente, que provocou a morte de do presidente e mais 88 autoridades.
No total, 97 pessoas morreram, segundo autoridades governamentais da Rússia. Inicialmente, o número divulgado foi de 96 vítimas.
De qualquer forma, Katyn volta a ter um significado macabro para os poloneses. As mensagens nos jornais Gazeta Wyborcza e Dziennik não deixam dúvida: Katyn “é um lugar maldito”.
O ex-presidente Aleksander Kwasniewski (1995-2005) afirmou isso sobre a região, de acordo com o jornal Gazeta Wyborcza.
Nas redes sociais, a mesma qualificação é dada para o lugar. A polonesa Katarzyna Pilipiuk, que mora em São Paulo, concorda:
– É claro que este lugar é muito importante na história da Polônia. Lá, os comunistas mataram a elite das tropas polonesas, cientistas, professores. A Polônia sempre lutou para que a Rússia admitisse que isso era um genocídio. Este ano foi a primeira vez que a Rússia participou das homenagens. As pessoas que estavam dentro do avião eram a nata da nata da política polonesa. Principalmente, acho que ocorreu uma perda significativa para a esquerda. Haviam duas mulheres do movimento feminista muito importantes lá. A mulher do presidente [Maria], por exemplo, era uma pessoa muito para a frente, ao contrário do marido. Ele era da direita, já ela era muito feminista, ligada aos ecologistas.
A professora Barbara Rzyski também expressou, em entrevista ao R7, a consternação que o acidente, sobretudo por ocorrer em uma viagem rumo a Katyn.
Entenda o massacre
Em abril de 1940, uma região de mata de Katyn, conhecida como Floresta da Morte, foi o local do massacre de cerca de 22 mil poloneses. A Polônia, então, dividida entre alemães e russos conforme o Pacto de Não Agressão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), deixou de existir.
Como forma de subjugar o país e minar a resistência, o ditador Josef Stalin ordenou a prisão da elite militar polonesa, além de professores universitários, intelectuais de destaque, médicos, jornalistas, padres, empresários eoutros.
Para ocultar melhor a autoria do crime, o massacre utilizou as primeiras técnicas de assassinato implementadas pelos nazistas, com um tiro na nuca e o enterro em valas comuns.
Alemães e soviéticos continuaram trocando acusações, mesmo com o fim da guerra e o restabelecimento da Polônia. O assunto foi o tema do filme Katyn, que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008, obra de Andzrej Wajda.
O cineasta polonês retratou com beleza e precisão o mistério e a sombra pertubadora do massacre. Wajda tinha uma motivação pessoal para fazer o filme, já que seu pai foi assassinado no local.
A União Soviética teve períodos de perseguição e afrouxamento com aqueles que buscavam saber o que exatamente ocorreu na floresta, mas não reconhecia a autoria do crime.
Foi apenas em 1990, já caminhando para seu fim, que a União Soviética reconheceu a ordem de Stalin e a ocultação do massacre. E, na última quinta-feira (8) houve a presença pela primeira vez dos chefes de governo da Rússia e da Polônia em uma cerimônia conjunta.
Hoje, haveria uma cerimônia maior, apenas com os poloneses. Infelizmente, Katyn entra outra vez para a história da Polônia como um lugar de tragédia.